|Resenha| Anjos e Demônios - Dan Brown

sexta-feira, outubro 21, 2016 0 Comments A+ a-

   Tudo parecia tranquilo na vida de Robert Langdon até que ele recebe certo telefonema no meio da noite, seguido de uma imagem de um cadáver que lhe é transmitida por fax. Ao ver um símbolo específico marcado a ferro no peito do homem morto, Robert desiste de considerar aquilo tudo um grande trote e parte para a aventura de sua vida. 
   Ou, ao menos, a primeira de várias outras grandes aventuras. Afinal essa é a primeira história do simbologista criado por Dan Brown, um acadêmico de Harvard que parece estar frequentemente viajando de um lugar para outro afim de desvendar enigmas e salvar pessoas de seu fim. Tal qual um James Bond de paletó se tweed, Langdon está sempre passando por aventuras improváveis acompanhado de moças muito mais jovens e bonitas. Diferentemente do protagonista criado por Ian Fleming, aqui o grande diferencial não é grande capacidade física ou autorização para matar mas sim um grande intelecto e a memória eidética (ou, popularmente dito, memória fotográfica) que o protagonista possui. 
   No auge dos meus 14/15 anos eu li o Código da Vinci e gostei bastante da história, que é cheia de conspirações e reviravoltas, mas também das informações sobre os símbolos e obras de arte apresentadas durante a história. Minha única ressalva quando li o livro foi a forma com que o autor apresentava tais informações, como se estivesse copiando e colando artigos da Wikipedia ao longo da narrativa. Pelo o que pude apurar nessa volta ao universo do autor, minha constatação adolescente foi bem precisa - eu só não esperava que, 10 anos depois, esse mesmo aspecto que antes era "só uma ressalva" passasse a me incomodar tanto. 
   Eu não sei se foi essa história, que me pareceu mais inacreditável e inverossímil que O código da Vinci, ou se foi apenas uma mudança nas minhas preferências literárias. O fato é que, tirando uma ou outra cena em que são citados pontos turísticos romanos e uma ou outra informação trivial que valeu a pena ser lida, eu não gostei nada desse livro
   Robert Langdon é um personagem chato em todos os sentidos e Vittoria Vetra (que nome...) é apenas um amontoado de cliché do que o autor imagina que deva ser uma cientista italiana, cheia de estereótipos ridículos. Os outros personagens não valem nem a pena serem comentados porquê, para fazê-lo eu teria que dar spoilers e pode ser que alguém queira ler essa bomba. 
   Sem julgamentos aos que gostam desse tipo de livro, a verdade é que "Anjos e Demônios" não dialogou comigo enquanto leitora de quase nenhuma forma. Achei o livro um grande filme de ação (o que eu detesto), mal escrito (algumas cenas e descrições são incompreensíveis) e com todas as reviravoltas e revelações de um grande novelão mexicano, além de ser tido muito, muito previsível. Dan Brown faz livros de inúmeras páginas (esse tem 480) mas acho que ao menos umas 200 poderiam ser retiradas sem as explicações e informações fúteis que povoam a história e se cortassem as cenas em que a mesma coisa é repetida vez após vez. Eu também não sei se foi uma boa ideia essa alternância toda entre o ponto de vista de vários personagens, principalmente quando o diálogo mental desses personagens nada faz a acrescentar a trama. 
   Antes que alguém venha me chamar de elitista ou algum descalabro parecido, vamos às explicações, que vou fazer ao estilo Dan Brown, interrompendo a resenha no meio para falar sobre algo que não tem nada a ver com o assunto (ou talvez tenha, sei lá). Se você caiu nesse Post de paraquedas (afinal está para sair um filme novo baseado nos livros desse autor. Inferno é  o nome, acho) peço que leia outros posts do meu Blog. Não apenas encontrará vários posts em que elogio livros considerado entretenimento duvidoso, como também verá que, em vários deles eu defendo esse tipo de literatura. Não só de Borges, Homero e outros autores "cabeçudos" vive um leitor; acredito que a leitura deve ser também divertida e, porque não, entretenimento. 
   Acontece que Anjos e Demônios falhou comigo nesse ponto pois não me deu o entretenimento que eu esperava. Seja porque esse tipo de leitura não seja mais para mim (prefiro romances ou policiais com menos ação e mais intelecto) ou porque o autor escreveu um livro realmente problemático, foi penoso ler Anjos e Demônios e peço desculpas se isso ofende alguém, mas não sou capaz de recomendar esse livro a ninguém. Cheguei ao ponto de imaginar se o filme não seria melhor que o livro, já que focaria mais na ação da trama e seria mais dinâmico do que esse calhamaço de mais de 400 páginas. Talvez assista e conte a vocês depois. 
   Mas, voltando ao livro, citei brevemente que gostei de algumas citações de lugares e obras e acho que esse seja um dos grandes méritos do livro, talvez o único. Não que o autor faça descrições perfeitas, tive que pesquisar quase tudo no Google para entender do que se tratava mas gosto da forma como Dan Brown transforma seus livros muitas vezes em guias dos locais em que as histórias se passam, O código da Vinci foi quase um guia alternativo de Paris e este é um guia de turismo Romano. Infelizmente, ver esses comentários e curiosidades de obras e locais que Dan Brown parece conhecer bem não vale a pena, porque há também coisas que o autor obviamente não conhece e insiste em tratar como se conhecesse. 
   Isso é muito claro no começo do livro, com as explicações circulares do autor sobre o que seria a anti-matéria e todos os aspectos científicos da descoberta. Tal qual seu equivalente fictício (Langdon) é muito claro que Brown também se sente pouco a vontade nesse meio. Quando a história chega ao Vaticano, vemos que o autor parece muito a vontade em descrever obras e peças mas falha na tentativa de esclarecer as motivações dos personagens religiosos da história. Alguns deles parecem maníacos, enquanto outros estão presos demais na tradição e se enxergam a ver a "verdade". Ele enxerga a Igreja como um outsider, narrando os fatos e costumes que considera arcaicos ou curiosos, mas parece incapaz de entender porque a Igreja ainda permanece existindo em pelo século XXI. Em um dos diálogos finais do livro, o autor utiliza a personagem Vittória Vetra para dizer sua visão de Deus e, obviamente, ela é muito distante a da Igreja Católica. 
   Obviamente um autor não precisa sequer ser cristão para escrever sobre o catolicismo, nem é necessário que a Igreja seja elogiada o tempo todo ou que tudo seja extremamente fiel. É ficção, não um artigo acadêmico. Mas acho que essa visão preconceituosa que Brown tem da Igreja atrapalhou a narrativa. Os personagens católicos do texto acabaram com diálogos internos muito desconexos com a fé católica - e olha que nem estou falando do grande vilão da história (claramente um louco) mas de outros personagens secundários que, mesmo tendo postos eminentes agiam de forma complemente discordante da que seria esperado para pessoas de sua posição. Ficou forçado e artificial esses momentos na mente de tais personagens e atribuo isso a falta de capacidade do autor em superar suas visões pré concebidas (ou isso ou a falta de talento mesmo). 
   Enfim, acho que fiz uma resenha digna desse livro: cheia de repetições e idas e voltas nos mesmos temas e explicações  algumas vezes incompreensível. Não sei o que pensaria de O Código da Vinci se relesse o livro hoje em dia mas é algo que certamente não pretendo fazer. 
   Se tem uma lição que aprendi nessas semanas da leitura penosa e incômoda de Anjos e Demônios é que eu jamais na minha vida vou querer ler um livro do Dan Brown de novo. Robert Langdon para mim morreu. 
    Nota 6 - não gostei

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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