Sobre Guilty Pleasure (ou: Por que sentimos culpa por gostar de coisas "ruins"?)

sexta-feira, maio 04, 2018 0 Comments A+ a-

https://misscarbono.blogspot.com/2018/05/sobre-guilty-pleasure-ou-por-que.html

   Você já ouviu a expressão guilty pleasure? Funciona assim: a pessoa diz que gosta da série/livro/filme X e acrescenta que é "guilty pleasure", porque sabe que é ruim etc etc. Ou seja, um "guilty plesure" é um produto que você consome e gosta mesmo sabendo que é de qualidade duvidosa
    Eu já devo ter utilizado esse termo no blog em algum momento porque é uma maneira bem rápido de explicar que você sabe que aquela coisa X (novamente, livro/filme/série) é ruim mas que gosta mesmo assim. Em uma resenha é quase um aviso "olha, eu estou falando bem disso mas não me xingue, okay? Eu sei que é ruim". Funciona mas, ao mesmo tempo, também me incomoda um pouco toda vez que uso. 

   A primeira coisa que me incomoda é a tradução literal - prazer culpado. Como se a pessoa devesse se sentir culpada por gostar de algo que não é considerado entretenimento de qualidade. Como se fosse necessário um grupo homogêneo de pessoas dizendo que algo é bom para que você possa respirar aliviado e dizer que gosta. 
   Eu entendo que algumas coisas que você goste possam ser tão ruins e tão massacradas que dê até uma vergonha de dizer em voz alta para um grupo de pessoas. Ou tão ruins que você até consegue perceber as falhas e pontos absurdos, mesmo gostando. Mas, falando como um fã da Saga Crepúsculo e alguém que gostou sinceramente do primeiro 50 Tons de Cinza: A gente tem que parar com essa coisa de Ensino Médio de fingir que não gosta das coisas só para se encaixar. Dá vergonha, mas precisamos tirar nossas autores e séries "ruins" que curtimos do armário: do contrário, como vamos encontrar outras pessoas que curtem esse algo tanto quanto a gente? 
   Então o primeiro motivo é esse, uma nova postura de assumir que meu gosto não é só clássicos e coisas cabeças, que também consumo bobagem (no melhor sentido possível). De dizer sem vergonha - ou talvez até com vergonha mas dizer mesmo assim - que não só estou amando Supergirl como também chorei no último episódio da primeira temporada porque pensei que a Kara não fosse sobreviver. A série tem problemas? Claro, principalmente a segunda temporada, que estou assistindo agora. Mas eu gosto. 

   O segundo ponto é que acho esse lance de "guilty pleasure" algo meio arrogante. Porque a pessoa que usa esse termo parece pressupor que, tirando aquelas músicas do Pablo Vittar ou aquela trilogia de romances hot que é o que ela chama de guilty pleasure, todo o resto que ela consome é bom. Tudo bem, você gosta dessas coisas mesmo sabendo que são ruins, ou bobas ou whatever - mas já parou para pensar nas coisas que você gosta e não sabe que são ruins? 
   Quando falo bom e ruim falo, obviamente, em um nível de avaliação técnica, aquela coisa impessoal, sem consideração pessoal. Um livro bom no sentido de ser bem escrito, um filme bom no sentido de ser bem filmado com um roteiro bem elaborado, bons diálogos. Pare e pense: tudo o que eu gosto é tecnicamente bom? 
   Se você for honesto consigo mesmo vai responder que "NÃO". Há momentos em que algo é bem feito ou bem escrito ou historicamente relevante mas esse produto supostamente incontestável não é algo que você gosta. Maior exemplo são os "clássicos" da literatura: eles são aclamados como clássicos por um motivo ou por outro mas, de modo geral, são considerados boas produções. Você gosta de todos os clássicos que lê? Só para citar um exemplo, eu não consegui terminar "O triste fim de Policarpo Quaresma" até hoje porque achei um porre. "O ateneu"? Li duas páginas. São livros clássicos mas não foram livros que me agradaram. 
   Ã‰ aquele papo de sempre, gostar é algo muito pessoal e individual. É quando o livro dialoga com você de alguma forma ou quando aquele filme tem algo que te interessa, te desperta atenção. Quando a série tem aquele personagem que parece falar tudo o que você quer dizer.
  Gostar não faz sentido, não é racional. Então, lamento dizer, nem tudo o que você gosta e defende com unhas e dentes da internet é bom. Isso vai além daquela comédia boba que você assiste sempre que está se sentindo para baixo, além de guilty pleasure, porque gostar não é um critério técnico, é algo 100% emocional (ok, talvez menos. Eu estou tentando criar um argumento aqui, me ajudem). 

    Então eu entendo o que você (e eu) quando falamos de Guilty Pleasure. É uma forma de avisar "olha, não adianta falar mal de X para mim, eu sei que é ruim". Mas essas mesmas pessoas que comentam "nossa, uma moça tão inteligente, assistindo reality show?" também curtem coisas que não foram validadas ou que não são intelectuais. E está tudo bem, sabe? Porque julgando o coleguinha ou se justificando para um coleguinha imaginário toda vez que for dizer que gosta de algo?
    Pensei nesse texto porque estava lendo o livro da Stephenie Meyer, chamado "A Química". É um livro irregular, algumas partes eu gostei, outras nem tanto. Mas, antes de escrever sobre esse resolvi refletir um pouco sobre essa expressão tão usada e compartilhar aqui com vocês.

 Claro, essa não é uma discussão fechada. Coloque sua opinião nos comentários! Bjs e até a próxima!




Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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